quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O PATRONO QUE PROVAVELMENTE NÃO EXISTIU



Hoje muitos namorados e namoradas andam eufóricos: é o dia deles, segundo alguém, com interesse no comércio de inutilidades, decretou.
A data coincide com a do aniversário da morte de um tal São Valentim, que a Igreja Católica retirou do seu calendário litúrgico, em 1969, por falta de provas históricas, suficiente para pôr em causa existência de tal personagem, pelo menos nos moldes em que a sua vida é narrada tradicionalmente.
Esta coisa do “dia dos namorados” encerra algumas curiosidades que eu não posso deixar passar em claro.
Torço sempre o nariz a uma grande parte dos dias comemorativos, de que este não foge. Não seria natural que o namorado, ou a namorada, dedicassem cada dia da sua vida à felicidade da sua amada, ou do seu amado? Não é assim, pelo menos, que nos é dado observar. No dia de “São Valentim” são as florzinhas, é o jantarinho, é a bugiganga que não serve para nada, a não ser a desobriga de oferecer qualquer coisa… e nos outros dias? Não há nada para ninguém! São as desculpas esfarrapadas, os assuntos do próprio, com prejuízo dos comuns aos dois, são as desatenções, etc.. Não seria mais lógico ir compartilhando o amor mútuo diariamente, com esmero, mantendo-o viçoso, assinalando a data de aniversário de início do namoro, em vez de engrossar toda essa multidão de comemorandos?
A data escolhida tem um fundo suficientemente lamecha para motivar namoradinhas - a vida do “santo”, segundo a lenda. Só que desta vez saíram as contas furadas: o santo foi posto fora da igreja 43 (quarenta e três) anos antes de a vaca e o burro serem expulsos de Belém. Mas nem por isso os promotores do consumismo esmoreceram. O dia continua a ser assinalado, com apoio dos media, como se o santo fosse o mais genuíno e mais celebrado.
Nunca fui entusiasta destes dias. Para mim, enquanto pude comemorá-lo, porque tinha com quem celebrar, o meu (nosso) dia de namorados foi o 28 de Fevereiro…

Setúbal, 14-02-2013
Paulo Eusébio