sábado, 7 de setembro de 2013

INCURSÃO PELOS MONTES HERMÍNIOS


Quem, em férias «cá dentro», desviando-se das praias saturadas, vá em busca do Portugal interior, arrisca-se a ter uma série de surpresas, se não tiver quem avise do que poderá encontrar.
A cabeça do Velho observa...

Durante uma semana, em Agosto último, com base no concelho de Gouveia, andei pelos Montes Hermínios. Como Viriato, em caso de emergência, não tinha meio mais eficaz que um valente berro, se necessitasse de socorro para mim, ou para alguém que comigo estivesse e necessitasse de ajuda que eu não lhe pudesse proporcionar. 

Berrar não é o meu forte, até pela minha rouquidão, e, afora isso, fosse a minha voz bem sonora e troante, no meio de uma estrada de reduzido movimento, em local afastado de qualquer habitação, o meu berro não seria ouvido por ninguém.
...os fumos, lá longe.


Perguntar-me-ão: “Porque não levaste o telemóvel contigo? Bastaria ligares o 112 em caso de emergência geral ou o 117, se avistasses qualquer nova coluna de fumo, para além das que ofuscavam o Sol, e te dificultavam a respiração, por obra daqueles que tudo incendeiam, ficando quase sempre impunes, mesmo que detidos e presentes a juízes que lhes aplicaram, como medida de coacção termo de identidade e residência, que que muitas vezes aproveitam para, a caminho dos locais de apresentação periódica, ou já no regresso, lançarem mais umas acendalhas?”.





A Muitos quilómetros de distância, o fumo lançava a sua cortina.
Nos lançamentos dos concursos para atribuição dos alvarás do serviço telefónico móvel – pergunto eu – alguém se lembrou de estabelecer a obrigação de as operadoras a licenciar cobrirem totalmente todo o Território Nacional, dentro de um prazo razoável determinado, findo o qual, não se verificando o cumprimento dessa obrigação, o alvará respectivo fosse cassado?
A pergunta, aparentemente pertinente, não tem em conta que, deslocando-nos em certas zonas do País, por estradas dos Séculos XX ou XXI, mergulhamos no reino das comunicações do Século XIX. Eu levava telemóvel, “dual-sim” com cartões de operadoras diferentes e todos os que comigo viajavam também eram portadores dos seus celulares. Há, no entanto, um pormenor a ter em consideração: não havia rede de nenhum dos operadores! Foi isso que me fez mergulhar nos Montes Hermínios, quando demandei a Serra da Estrela. É isso que acontece em muitas parcelas do «Portugal Profundo», de Norte a Sul!
Alguém impôs aos amigos do costume que cumprissem essa simples obrigação de tornar possível ao assinante - que paga para isso! -  falar, usando o seu telefone de bolso, para quem estivesse noutro qualquer ponto do Território, ou só lhes disseram que, além das chamadas e mensagens possíveis nas áreas que decidissem cobrir, estavam autorizados a usar toda a espécie de estratagemas para sacarem mais algum – resultados de futebol (só para 3 clubes, que os outros não são ninguém, pois não têm numero suficiente de tansos que tornem rentável esse serviço), o tarot da Maya, estreias de cinema, Euromilhões, etc. – ou lançarem-se em novos serviços integrados concorrendo em áreas cujos operadores se alargaram simultaneamente os seus negócios ao telefone móvel?
Nas serras, em muitas Reservas Naturais, o fogo lavrou, extinguindo grande parte da nossa floresta, com consequências dramáticas, além da perda de oito vidas humanas (oito até ao momento em que escrevo), na extinção de ecossistemas, na interrupção de cadeias alimentares, no agravamento de doenças, pela perda de qualidade do ar, e no empobrecimento geral do País já tão agredido por outras vias e diligentes agentes.
O Sol espreitava, envergonhado!
Quem são os criminosos a quem se deve esta destruição pelas chamas?:
Os que, Estado incluído, não limpam nem deixam que lhes limpem as florestas que lhes pertencem ou estão confiadas? 
Os que por adorarem o espectáculo, lançam fogos simultâneos em diversos pontos? 
Os que, por interesses imobiliários, mandam queimar áreas, onde, fintando a Lei, irão construir mais tarde? 
Os que, pagos por estes últimos, incendeiam as citadas áreas? 
Os que se aproveitam dos baixos preços da madeira ardida, abatida em consequência de fogos que mandaram incendiar, aumentando os seus lucros por essa via? 
Os que, por uma qualquer vingança ateiam fogos? 
Os que…?

E não seria também de incluir entre os criminosos os que operando apenas com os olhos na maximização do lucro, só disponibilizam o serviço de cobertura celular nacional apenas onde ele é rentável, pelo potencial número de assinantes por hectare, mergulhando o resto de Território numa mancha negra de silêncio?;
Os que por negligência contratual, permitem que isso aconteça?;
Por último, os que desculpando-se com mil e um argumentos vão reduzindo paulatinamente Serviços Públicos, material e humanamente, tornando o Estado em mero agente de extorsão?

Deixo estas perguntas a quem me ler, como base de meditação e busca de soluções para impor aos responsáveis políticos que tão cegos e surdos têm andado, excepto, para o que convém aos interesses próprios e aos dos seus dilectos amigos, que finalmente cumpram os mandatos para os quais os elegemos e para para cujo cumprimento lhes pagamos ( muito mais do quem têm demonstrado merecer).

Setúbal, 7 de Setembro de 2013
Paulo Eusébio


ESTE TEXTO FOI ESCRITO EM PORTUGUÊS, EM VIRTUDE DE O AUTOR NÃO PACTUAR COM A DESTRUIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA QUE TEIMOSAMENTE TÊM PROSSEGUIDO, ESCUDADOS NUM "ACORDO" ILEGÍTIMO E INEXISTENTE.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

OS PORTUGUESES, FORA DO PAÍS!

Decorrem hoje, em Elvas, as comemorações do Dia de Portugal. 
Muitos se lembrarão do “Dia de São Terreiro do Paço”, em que a data se transformara, durante a última década do “Estado Novo”: num aparato de patriotismo exacerbado, o regime, em loas a quem estava «orgulhosamente só», condecorava as figuras, que lhe mereciam destaque, por diversos feitos, a favor do salazarismo, confundindo este com os reais interesses do Povo, que não era para aí tido, nem chamado.
Entre aos agraciados contavam-se sempre, alguns a título póstumo, centenas de militares, que se tinham destacado em missões heróicas na guerra que o Presidente de Concelho tinha podido evitar décadas atrás, mas que preferira possibilitar. Não vou aqui fazer a análise do que, nessa área, foi proposto e sucessivamente recusado pelo ditador, enquanto punha os carimbos TRAIDOR e COMUNISTA na testa dos proponentes.
E era, e ainda é, sabido a quem exibia esses carimbos.
 
Futuro sombrio, assegurado, pelo caminho traçado.
Hoje, há pequenas diferenças: as celebrações descentralizaram-se, sendo em cada ano efectuadas numa cidade diferente, as forças armadas têm apenas o papel de prestar vassalagem em parada militar, e o Chefe, acompanhado da esposa e dos ajudantes, deixou de vestir de branco, como qualquer cozinheiro, mas apresenta-se no seu fatinho domingueiro, de campónio algarvio, acompanhado da sua Maria, que devido à sua elegância, “qualquer trapinho lhe fica bem”. No mais, poucas diferenças haverá, pelo, que abandonei o déja vue, e vim escrever este desabafo.

Num ponto-morto da cerimónia de Elvas, antecedendo os discursos habituais, a RTP1 transmitiu um trabalho em que entrevistava pessoas que tinham dado novos rumos às suas vidas, algumas, só profissionalmente, outras, também emigrando. De todas a entrevistas, uma frase, entrou-me por um ouvido e… não saiu: “As pessoas, fora de Portugal, sentem-se mais portuguesas!”.

Aparentemente, um cliché, esta frase, na sua simplicidade resume o ponto de chegada comum a três aspectos.
Os nossos queridos dispositores dos nossos destinos, têm-nos desenvolvido condições para nos sentirmos cada vez mais “desnacionalizados” e escravizados por aqueles a quem nos vão vendendo! O escravo acaba por ser um apátrida, situação em que os que permanecemos aqui, cada vez mais, nos sentimos. Portanto, fora de Portugal, não sentindo o jugo a que nos submeteram, sentindo-se livres a pessoas sentem-se ainda Portuguesas.
Todos aqueles que após negociatas, trafulhices, roubos e toda a espécie de aldrabices, que esmifraram a riqueza nacional e se puseram ao fresco, para climas mais propícios, como Cabo Verde, Angola, etc., sentindo-se longe de terem de prestar contas à justiça, sentem-se portugueses, pois estão fortes e vigorosos, por efeito da transfusão de que beneficiaram, a partir do sistema circulatório financeiro de Portugal.
Há quem lhe tenha feito isto!

Por último, percebe-se agora, o que estava na cabeça de quem aconselhou os portugueses a não serem piegas e a emigrarem: o futuro que lhes estava a preparar  não era digno de seres livres; logo, se quisessem continuar a sê-lo, só tinham um caminho a seguir, pirarem-se, e, conseguida uma vida digna lá fora, sentir-se-iam mais portugueses, coisa que pelo encaminhamento a que Portugal estava (e continua) a ser sujeito, seria cada vez menos possível aqui.
O povo Português corre o risco de, à semelhança do Judeu, durante quase dois milénios, ficar privado de território próprio, assumindo nacionalidades alheias, embora o seu sentimento e cultura próprios, que se esforçarão por preservar, os façam sentir-se cada vez mais Portugueses.

Setúbal, 10 de Junho de 2013.
Paulo Eusébio

Este texto foi escrito em Português. Se os “acordistas” o quiserem compreender,  ainda estão a tempo de aprender a Língua Pátria. (Decreto n.º 35:228 de 8 de Dezembro de 1945)

sexta-feira, 7 de junho de 2013

O “AMIGO” E A “PRENDA”

À ATENÇÃO DE TODOS, ESPECIALMENTE DOS MAIS IDOSOS:

Já não é nova, esta situação, mas está actualmente em prática, nomeadamente, na cidade de Setúbal. Vou descrever, resumidamente, quatro ocorrências em que fui envolvido. Não posso precisar datas, mas a primeira ocorreu há mais de 10 anos e a última há cerca de seis meses:
1 – Indo a passar por um carro parado, junto à agência do Sottomayor, na Avenida D. Afonso Henriques, em Almada, com o presumível ocupante junto dele, fui abordado por este indivíduo, que encetou o diálogo:
- Senhor Machête, como está?
Cuidado com os burlões
    (imagem do Google)
- Bem, obrigado!...
- Não se recorda de mim…
- …
- … eu vinha aqui muito, à Agência, quando era pequeno, ter com o meu tio…
- Não me recordo. Nem sei a quem se refere como seu tio…
- O seu colega Oliveira! Sou o sobrinho que, em pequeno, vinha ter com ele muitas vezes…
- Não me lembro de nenhum sobrinho desse meu colega, muito menos que o visitasse…
- É natural. Já passaram uns anos valentes!... mas eu nunca me esqueci de si, mesmo imigrado em França. Voltei há dias e até lhe trouxe uma prenda. (e foi ao carro buscar uma caixa que abriu, na qual se encontravam dois relógios). Um para si e o outro para a sua esposa.
- Muito obrigado, mas nem eu nem a minha mulher iremos usar nenhum desses relógios, porque não necessitamos. Decerto tem mais amigos e talvez se tenha esquecido de lhes trazer qualquer coisa… Cumprimentos ao seu tio!...
E aproveitando o efeito de surpresa, afastei-me do local. O “amigo” entrou no carro e pôs-se a milhas…

Vi que havia algo de errado assim que ele me disse ser sobrinho de alguém que eu sabia não ter qualquer sobrinho, o que me permitiu controlar a situação e escolher o momento melhor para sair do local, quando houvesse gente a passar muito perto de nós…

2 – Próximo do local anterior, também em Almada, na Praça Gil Vicente:
- Machête, estás bom!...
O tipo que se me dirigia aparentava ter aproximadamente a minha idade, era magro, com muito sol responsável pela tez bronzeada, cabelo “máquina três”, grisalho. Trazia na mão um saco de plástico.
- …não te lembras de mim?
- Sinceramente, não…
- Sou o Ferreira, trabalhava aqui nesta Agência, quando tu entraste para o Banco, fui semanas depois para Lisboa. Não te lembras?
- Não, por esse nome só me lembro do colega que entrou depois de mim e que ainda aqui trabalha.
- Pois… já passaram tantos anos e nunca mais nos vimos. Mas tu estás na mesma! Com os anos em cima mas assim que te vi reconheci-te. Olha, fui fazer uma compra na perfumaria, aqui mesmo ao lado da farmácia e ofereceram-me este perfume para senhora (e tirou um embrulho do saco). Eu sou viúvo e não tenho a quem o dar. Leva-o para a tua mulher.
Os idosos são o alvo preferencial
( gravura do Google)
- Eh, pá! Fico agradecido como se aceitasse, mas a minha mulher só usa uma marca de perfumes, que não será essa, Se fosse, seria demasiado cara para ser oferecida como brinde…
E deixei-o de imediato…

Ponto mais fraco da história: Lembrava-me dos nomes de todos os colegas que estavam na agência no meu primeiro dia de trabalho e não havia nenhum Ferreira.

3 – No parque de estacionamento exterior, no Continente, no Fogueteiro, Seixal. Ia a passar por um carro parado, perpendicularmente aos que estavam, estacionados, quando alguém que estava no interior do carro me chamou.
- … Lembra-se do seu colega Augusto que trabalhou consigo na agência do Banco?
- …
-  Sou o sobrinho dele que emigrou para França. Voltei e vou abrir um restaurante, no dia 1. Gostava que fosse um dos primeiros clientes. (e passou a descrever a localização exacta do restaurante, logo ali abaixo, naquela rua, virando à esquerda. É facilmente identificado pelo toldo, amarelo…). Faça-me uma visita, no dia da abertura, e leve a família!
- Se me for possível, lá estarei…
Já agora tenho ali uma coisa que lhe deve interessar. Trouxe de França (e já tinha saído do carro, aberto a mala e tirado uma caixa, que pela rotulagem, devia conter uma máquina fotográfica de uma conceituada marca e alto preço.) Não a vou utilizar mais, porque o restaurante não me vai dar tempo, mas, para si fica-lhe por dez contos. É praticamente dada, mas é melhor ficar nas mãos de uma pessoa conhecida…
- Tenho pena, meu amigo, mas comprei há menos de duas semanas a máquina dos meus sonhos. Portanto não necessito dessa…
- Mas pode ficar com ele e vendê-la e ganhar um bom dinheiro…
- Então também você pode vende-la e ser você a ganhar o dinheiro. Sugiro que discretamente, sonde entre os clientes do restaurante, quem lhe pareça estar interessado em a comprar por um preço justo…
- Ainda não consegui estacionar o carro para levantar dinheiro. Tem algum que me empreste que eu pago-lhe quando nos encontrarmos no restaurante?
- Também estou sem dinheiro, mas há uma ATM ali dentro. Se deixar aqui o carro só para ir levantar o dinheiro, ninguém vai multá-lo…
Ainda eu não tinha acabado a frase e já o “dono do restaurante” tinha entrado no carro, atirado a caixa para o banco ao lado do condutor e arrancado, a acelerar, curvando à esquerda, altura em que um estrondo, denunciava a batida, num pino de ferro, que amachucou a porta traseira direita do Mercedes. E lá foi praguejando, sem parar, enquanto eu ria a bom rir…

A história só não pegou, provavelmente, porque, em função das anteriores situações, comecei a desconfiar da insistência em pormenores que não poderia confirmar de imediato; tive a confirmação de que era tentativa de burla com a oferta da pechincha.

4 – Um dia de manhã, em Outubro ou Novembro do ano passado, na Praça do Bocage, em Setúbal, na zona de estacionamento, frente ao Clube de Oficiais, pára um carro, conduzido por um indivíduo novo, com uma rapariga ao lado, que, à primeira vista, seria namorada. O condutor, dirigindo-se a mim:
- Então como vai? Já não o via há muito tempo.
- Estou bem, muito obrigado…
- Já não me conhece! Sou o Rui, que trabalhava na farmácia onde é cliente! De repente esqueci o seu nome…
- Manuel…
- Exactamente, um nome tão conhecido e agora não me lembrava!
- Mas olhe que deve estar enganado. Na farmácia há efectivamente um empregado chamado Rui, mas nem sequer é parecido consigo. Se calhar é outra farmácia, está a confundir-me com alguém com o mesmo nome…
- Não, senhor Manuel! O Rui que você diz, foi o que entrou para me substituir…
- Mas eu sempre me lembro dele na farmácia…
- Porque pouco depois de ter começado a ser freguês da farmácia eu saí e estou agora na Vorten. Se precisar de comprar lá alguma coisa, mande chamar-me se quiser ajuda… Já agora, tenho aqui isto, que lhe posso oferecer…
- Não é preciso, muito obrigado! Amanhã ou depois, passo pela Vorten. Até breve!
E afastei-me…
Pontos fracos: muitos, mas o meu nome falso, confirmado de imediato pelo burlão, foi suficiente para não me deixar qualquer dúvida.
 
Alvos mais apetecíveis
(foto do Google)
Por sorte – ou por andar de “pé atrás” com conhecimento outras de burlas que, em comum com estas tentativas tinham o facto de os indivíduos nos quererem fazer crer que são nossos conhecidos que já esquecemos, deslocarem-se em carro, e trazerem qualquer coisa para nos oferecerem –, não caí no “conto de vigário”. Desprevenido, talvez tivesse caído na primeira tentativa.

Numa abordagem desta natureza, aconselho a que tome as seguintes atitudes e decisões:
1 – Cada vez que eles procurem “lembrar-se” de qualquer coisa ou pormenor, sugira-lhes um dado falso;
2 – Nunca pegue na ”prenda”;
3 – Vá conferindo, mentalmente a conversa, procurando contradições;
4 – Mantenha sempre a declaração que não se lembra deles;
5 – Nunca mostre dinheiro ou qualquer objecto que lhe peçam em pagamento ou a título de empréstimo;
6 – Afaste-se deles quando passe alguém perto de si;
7 – Apresente queixa na Polícia, dando informação, tão completa quanto possível, do aspecto dos indivíduos e os possíveis dados relativos ao carro (cor, marca e, caso consiga, memorize a matrícula).


Andam por aí vários burlões/ladrões, em acção, designadamente, no Bairro do Liceu, Avenida Luísa Todi, etc.
Estejamos prevenidos e atentos!

Setúbal, 7 de Junho de 2013
Paulo Eusébio.


Este texto foi escrito em Português. Se os “acordistas” o quiserem compreender,  ainda estão a tempo de aprender a Língua Pátria. (Decreto n.º 35:228 de 8 de Dezembro de 1945)

segunda-feira, 27 de maio de 2013

AQUILINO RIBEIRO DEIXOU-NOS HÁ 50 ANOS

   No dia em que decorrem 50 anos sobre a morte de Aquilino Ribeiro, transcrevo na íntegra o texto de Álvaro José Ferreira que teve a amabilidade de mo enviar. Subscrevo integralmente tudo o que aqui fica.

27 Maio 2013

Aquilino Ribeiro: cinquentenário da morte



Faz hoje exactamente cinquenta anos que a morte subtraiu ao número dos vivos um dos maiores vultos da Literatura Portuguesa do século XX e de sempre, Aquilino Ribeiro (vide biografia e bibliografia aqui).
Luís Caetano, na edição de sábado passado (25 de Maio) do seu programa "A Força das Coisas", tomou a louvável iniciativa de evocar o grande escritor, lendo um belo e suculento naco da prosa aquiliniana extraído do romance "Andam Faunos Pelos Bosques", bem como dando conta da reedição que a Bertrand Editora vem fazendo de diversos dos seus títulos e – sobretudo – transmitindo a interessantíssima entrevista que o ilustre autor concedeu a Francisco Igrejas Caeiro, em 1957, para o programa "Perfil dum Artista". Quem a não ouviu ou deseje reouvi-la poderá fazê-lo a todo o momento acedendo a: http://www.rtp.pt/play/p321/e118401/a-forca-das-coisas
.
Gostei imenso de ouvir esta homenagem ao autor d' "A Casa Grande de Romarigães" e aplaudo Luís Caetano por tê-la levado a cabo. Fica é a saber-me a pouco no âmbito geral do serviço público de rádio que tinha a obrigação de assinalar com outra ênfase e visibilidade (ou audibilidade, melhor dizendo) a efeméride, atendendo à importância do escritor. Se João Pereira Bastos fosse ainda director da Antena 2 não tenho dúvidas de que teria feito um ciclo de programas em torno da vida e da obra de Aquilino Ribeiro. Mas eu nem vou ao ponto de pedir à actual direcção, conhecendo a sua insensibilidade a tudo o que seja matéria cultural não musical, que tomasse idêntico procedimento. O que não posso aceitar, de forma alguma, é que Rui Pêgo e/ou João Almeida nem sequer se tivessem dado ao "incómodo" de resgatar do arquivo histórico a adaptação radiofónica do romance "Terras do Demo", de que ainda tenho reminiscências na memória de a ter ouvido algures nos anos 80, emitida pela Antena 1. A idade que tenho não me permite ter memória de escuta de rádio anterior a finais dos anos 70, mas quero acreditar que outras obras aquilinianas terão merecido a atenção de Eduardo Street, de Odete de Saint-Maurice ou de outros realizadores de programas dramáticos que trabalharam na rádio pública, pelo que se em vez de "Terras do Demo" fosse escolhida outra obra não haveria da minha parte a mais pequena objecção. Nada de nada é que não! Digo mais: a Antena 2 (ou a Antena 1 – para o caso é-me indiferente) devia ter na sua grelha um espaço permanente expressamente consagrado à reposição dessas adaptações de obras literárias de grandes autores portugueses (e não só). As efemérides do nascimento ou da morte de um determinado escritor seriam apenas pretextos para dar a ouvir obras suas. Tais adaptações radiofónicas eram geralmente muito bem feitas, na componente técnica da realização, e altamente valorizadas pela participação de actores de primeiríssima categoria com as suas vozes extremamente bem colocadas e moduladas. Como muito bem lembrou a jornalista Helena Matos, convidada a falar das suas memórias radiofónicas ao programa "A Vida dos Sons", tais vozes eram em si mesmas autênticas personalidades sonoras, proporcionando a quem as ouvia a formação de um imaginário rico e único. Era a marca distintiva dos timbres e era o uso irrepreensível da língua portuguesa – na prosódia, na sintaxe e na vertente lexical. Só neste aspecto bom e relevante serviço público prestaria a rádio estatal nos dias de hoje com a transmissão desses registos! Ouvir falar bem ajuda a bem falar.
Bem, eu parto do princípio de que as adaptações radiofónicas de obras romanescas, a exemplo das de peças teatrais, não foram destruídas... É que se o foram há que meter na prisão (não é caso para menos) os responsáveis por tão inominável crime contra o nosso património fonográfico!





Capa do romance "Terras do Demo" (Bertrand Editora, edição de 2012)





Capa do romance "Andam Faunos Pelos Bosques" (Bertrand Editora, edição de 2011)
Publicada por à(s)17:01

Setúbal, 27 de Maio de 2013.

Paulo Eusébio.

terça-feira, 9 de abril de 2013

HOSPITAL DE S. BERNARDO AMEAÇADO

   Tive hoje a notícia de que o Hospital de S. Bernardo vai passar a abranger o concelho de Sesimbra na sua área de acção. Por outras palavras, vai ter um aumento significativo de utentes.
   Até agora, os concelhos de Sesimbra e Seixal, têm estado atribuídos ao Hospital Garcia de Orta, em Almada, concelho que por si só era suficiente para ocupar toda a dimensão daquela unidade hospitalar  (que foi inaugurada já sub-dimensionada, em relação às reais necessidades do concelho de Almada),  e que com a sobrecarga dos dois concelhos adicionais, há muito rebentou pelas costuras.
    Durante anos as populações dos três concelhos envolvidos estiveram na expectativa de o problema ser resolvido com a construção de um novo Hospital que servisse o Seixal e Sesimbra. Foram até aventadas hipóteses de localização, uma delas próxima do cruzamento da EN 10 com a EN 378, o que teria a dupla vantagem de maior proximidade dos utentes de ambos os concelhos ao hospital que lhes era dedicado e, por outro lado, se devolver ao Garcia de Orta a possibilidade de ser o hospital de referência que há muito deixou de ser, pese embora a competência, dedicação e saber da grande maioria dos seu pessoal médico, de enfermagem e auxiliar.
O Hospital Garcia de Orta rebentou pelas costuras.
(foto obtida na Net)
Mas  longe de se resolver esse problema, outras foram as opções, inclusive com obras de fachada, onde se gastaram e continuam a gastar milhões de euros, como foi o caso - o mais gritante! - do Metro de Almada, obra desnecessária, que a teimosia, incompetência e delírio de uma autarca irritadiça e prepotente conseguiu levar por diante, contra avisos e chamadas de atenção dos mais diversos sectores. E o resultado está à vista: o Metro não sofre prejuízos porque o erário público os cobre integralmente, apesar de os comboios circularem "às moscas", ou quase. E só não se referem aqui todos os nefastos efeitos do "comboio da presidente", para não me alongar mais do desvio do assunto que me propus tratar hoje. Só digo que se a "presidente" tivesse tido o mesmo empenho e determinação no sentido de ajudar a resolver o problema de base do Hospital Garcia de Orta, o Hospital de Sesimbra e Seixal, estaria hoje em pleno funcionamento e sabe-se lá se algumas vidas teriam sido salvas, das que eventualmente não o foram por manifesta impossibilidade de a Urgência atender todos os casos em tempo realmente útil. 
O Hospital de S. Bernardo corre o risco de perder capacidade de
resposta e de excelência de serviço por sobrecarga de utentes.
(foto obtida na Net)
   Com a decisão de transferir para Setúbal parte do problema de Almada, não só Almada não vê o estado de sobrecarga do seu hospital resolvido, como em Setúbal se cria problema idêntico ao de Almada,
   É sabido que a qualidade do serviço hospitalar público (eu próprio o posso testemunhar), é, de um modo geral, muito superior ao privado. Os motivos ficam para outra oportunidade.
   Conscientes dessa realidade estes vendilhões do País que querem é privatizar, entregando tudo a amigos por preços simbólicos, tudo vão fazendo para baixar a qualidade dos serviços prestados. Assim está a acontecer, por exemplo com a RTP e com a TAP, assim como a outras empresas, já privatizadas, cuja baixa de qualidade, continuou após a privatização, com os dantes reclamantes perante qualquer falha, agora calados que nem ratos (que efectivamente são!).
   Quanto piores forem os serviços prestados, mais baratas ficam as empresas, e os amigos dos decisores podem comprá-las ao preço da chuva.
   Regressando aos hospitais, a lógica é a mesma. para além das unidades já fechadas - o caso mais escandaloso será o da Maternidade Alfredo da Costa! - os suspeitos do costume estão à espreita preparados para dividirem entre si o património do Serviço Nacional de Saúde, transformando-o em mais uma fonte de lucrativo negócio, que de saúde não precisam, porque só serve para prolongar a vida dos inactivos que já produziram o que tinham a produzir...

Setúbal, 9 de Abril de 2013.
Paulo Eusébio
  
Este texto foi escrito em Português. Anda para aí um lixo a que clamam "acordo" que não conspurca  o que escrevo.

sexta-feira, 8 de março de 2013

DIA INTERNACIONAL DA AVE DOMÉSTICA

   No calendário dos dias internacionais comemorativos procurei, sem êxito, um que fosse dedicado às aves domésticas.
   Parece-me injusta e injustificada a descriminação a que estão sujeitas as aves (geralmente engaioladas) que nos alegram os lares, quase sempre entoando cantos melodiosos, a troco de sementes e água com que os donos as alimentam.
   Por tão curta paga, as aves domésticas dedicam-se aos donos que reconhecem, muitas vezes recebendo-os com belos trinados, depois de um dia de isolamento na gaiola, quando eles chegam a casa.
   Quem me conhece sabe que eu não sou entusiasta dos "dias internacionais", antes defensor de que a atenção e propósitos propostos para essas datas fossem dedicados, diária e constantemente, a pessoas e sentimentos, em vez dessa lavagem de consciências, logo sujas, de novo, no lamaçal da hipocrisia humana. Apesar disso, dada a natureza do objecto, proponho a criação de um dia internacionalmente dedicado às aves domésticas. 
 Nesse dia as aves poderiam ser libertadas das suas gaiolas, circular livremente pelas casas, alimentando-se e saciando a sede nas casas de jantar e nas cozinhas dos donos. As janelas seriam abertas e todas as aves poderiam voar livremente e, se quisessem, poderiam voltar para as suas gaiolas, durante mais um ano, até ao seu dia internacional do ano seguinte.
   Se pretendessem aproveitar a data para seguirem novos rumos bastar-lhes-ia, de acordo com o Art.º 1.º da Declaração dos Direitos das Aves Domésticas - «Todas as aves são livres de voar para  qualquer país ou lugar, tendo como limites a sua autonomia em distância e o céu em altitude.» (a aprovar oportunamente) -  não voltarem para as casas dos donos decidindo assim novos rumos a dar livremente às suas vidas.
   Como não gosto de deixar sugestões pelo meio, proponho a data para o I Dia Internacional da Ave Doméstica, precisamente para daqui a um ano: 8 de Março de 2014, aproveitando a deixada vaga por uma comemoração, que proponho passe a ser diária e constante, de celebração da Mulher, como pedra basilar da humanidade, que gera, amamenta, e acarinha, e pelo papel preponderante que tem na formação integral do ser humano.

Setúbal, 8 de Março de 2013
Paulo Eusébio

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O PATRONO QUE PROVAVELMENTE NÃO EXISTIU



Hoje muitos namorados e namoradas andam eufóricos: é o dia deles, segundo alguém, com interesse no comércio de inutilidades, decretou.
A data coincide com a do aniversário da morte de um tal São Valentim, que a Igreja Católica retirou do seu calendário litúrgico, em 1969, por falta de provas históricas, suficiente para pôr em causa existência de tal personagem, pelo menos nos moldes em que a sua vida é narrada tradicionalmente.
Esta coisa do “dia dos namorados” encerra algumas curiosidades que eu não posso deixar passar em claro.
Torço sempre o nariz a uma grande parte dos dias comemorativos, de que este não foge. Não seria natural que o namorado, ou a namorada, dedicassem cada dia da sua vida à felicidade da sua amada, ou do seu amado? Não é assim, pelo menos, que nos é dado observar. No dia de “São Valentim” são as florzinhas, é o jantarinho, é a bugiganga que não serve para nada, a não ser a desobriga de oferecer qualquer coisa… e nos outros dias? Não há nada para ninguém! São as desculpas esfarrapadas, os assuntos do próprio, com prejuízo dos comuns aos dois, são as desatenções, etc.. Não seria mais lógico ir compartilhando o amor mútuo diariamente, com esmero, mantendo-o viçoso, assinalando a data de aniversário de início do namoro, em vez de engrossar toda essa multidão de comemorandos?
A data escolhida tem um fundo suficientemente lamecha para motivar namoradinhas - a vida do “santo”, segundo a lenda. Só que desta vez saíram as contas furadas: o santo foi posto fora da igreja 43 (quarenta e três) anos antes de a vaca e o burro serem expulsos de Belém. Mas nem por isso os promotores do consumismo esmoreceram. O dia continua a ser assinalado, com apoio dos media, como se o santo fosse o mais genuíno e mais celebrado.
Nunca fui entusiasta destes dias. Para mim, enquanto pude comemorá-lo, porque tinha com quem celebrar, o meu (nosso) dia de namorados foi o 28 de Fevereiro…

Setúbal, 14-02-2013
Paulo Eusébio



terça-feira, 29 de janeiro de 2013

ENQUANTO HÁ TEMPO

    A Língua Portuguesa está a ser alvo de um crime violento contra a sua variante própria da sua Pátria-Mãe. 
       Gente inculta, ignorante e teimosa, cozinhou uma coisa a que deu o nome de Acordo Ortográfico que governantes não menos ignorantes e incultos, prepotentemente querem impor-nos a todo o custo, surdos às vozes que em número crescente se levantam contra esse crime - mais um! - que está a lançar o ridículo e chacota sobre o Povo Português, em nome do qual tomam as mais estúpidas decisões.
       Sem me alongar mais, dou a ligação para um blogue contendo matéria de inegável interesse sobre assunto de tão elevado interesse:

http://persuaccao.blogspot.pt/2013/01/desacordo-ortografico-carta-aberta-ao.html

    Peço uns minutos da vossa atenção para esta publicação. Ainda é possível salvar a Língua Portuguesa

       Setúbal, 29-01-2013
       Paulo Eusébio.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

ENTRE A INSUBMISSÃO E O SILÊNCIO


Antes de tecer as breves considerações que aqui deixo, quero declarar que a amizade muito especial que me liga à poetisa Paula Raposo não me impede da maior imparcialidade ao abordar a sua obra poética, num apontamento ligeiro e despretensioso. Não seria capaz de o fazer de outra maneira, nem a Autora mo perdoaria, se o não fizesse.  
Mais deixo bem claro que não sou crítico literário, nem tenho qualificação para o ser. Mas o facto de não ser enólogo não me impede de saborear e gostar de um bom vinho. A poesia, acho eu, tem várias semelhanças com o vinho: um aroma próprio, um sabor distinto, e estimulante que permanece para além do momento em que o degustamos.
O vinho para ser bem apreciado deve ser bebido lentamente, saboreado sem pressas, tirando assim todo o partido da simbiose entre paladar e aroma.
Li e reli, sem pressas, saboreando, os dois últimos livros de poesia de Paula Raposo: “Insubmissa: o lado errado numa linha imaginária” e “O Laço Impenetrável do Silêncio”, ambos editados pela Chiado Editora. 
Deixei passar algum tempo, para sentir o efeito prolongado, como se de um vinho se tratasse. 
Fiz bem.
A impressionante facilidade com a poesia brota de Paula Raposo, permite que, além dos sete livros de poesia já publicados, colabore em publicações colectivas, e “poste” na sua página de Facebook e no seu blogue próprio (http://asminhasromas.blogspot.pt/), para além da colaboração poética que deu até há mais de um ano, a um blogue erótico, tudo numa produção de quantidade elevada mas não de menor qualidade. Estão já prontos a editar mais dois livros.

Paula Raposo, navega nos mares da Esperança, do Amor e do Erotismo, numa zona em que águas destes mares se ligam e interpenetram, num estilo por vezes suave, outras, intenso, libertador do que lhe vai na alma. Cada poema é como uma bela laranja, de casca fina, sumarenta e refrescante, onde se descobre perfumada doçura, mesmo quando a solidão, a amargura ou o desencanto possam quebrar a doçura do fruto.
A poesia brota de todos os poros de Paula Raposo fluindo com a mesma naturalidade com que a Autora respira.
Os seus poemas, ricos em conceitos e mensagens, não deixam o leitor indiferente, permanecendo na memória o sabor que se entranhou.

Dizia alguém, na minha juventude, que as essências raras se guardam em frascos pequenos.
A poesia de Paula Raposo, é uma essência rara, cada dose (poema) não é extensa nem rebuscada, mas tem uma intensidade que nos leva a, degustada uma, nos servirmos de outra, e mais outra, sem pressas tirando todo o proveito de uma leitura que dá prazer.


 Setúbal, 23 de Janeiro de 2013
Paulo Eusébio