quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

MENSAGEM DE RETRIBUIÇÃO




   Pelo facebook, através de Rogélia Jesus, chegou-me o conjunto (texto e a fotografia), que reproduzo na íntegra:



MENSAGEM DE RETRIBUIÇÃO AO PEDRO E À LAURA


por Nuno Barradas a Quinta-feira, 27 de Dezembro de 2012 às 16:08 ·

«Caro Pedro,
Antes de mais os meus sinceros agradecimentos pela amabilidade que tiveste em prescindir dos poucos momentos em que não tens que carregar o país às costas, para pensar um pouco em nós e nos nossos natais.
Retrataste com a clarividência de poucos a forma penosa como atravessamos esta quadra que deveria ser de alegria, amor e união. És de facto um ser iluminado e somos sem dúvida privilegiados em ter ao leme da nossa nau um ser humano de tão refinada cepa.
Gostava também de ser interlocutor de alguém que queria aproveitar o espírito de boa vontade que a quadra proporciona para te pedir sinceras desculpas…a minha mãe.
A minha mãe é uma senhora de 70 anos, que usufruindo de uma escandalosa pensão de mil e poucos euros, se sente responsável pelo miserável natal de todos os seus concidadãos. Ela não consegue compreender onde falhou, mas está convicta de que o fez…doutra forma não terias afirmado o que afirmaste. Tentarei resumir o seu percurso de vida para que nos ajudes a identificar a mácula.
A minha mãe nasceu em Alcácer do Sal começou a trabalhar com 12 ou 13 anos…já não se recorda muito bem. Apanhava ganchos de cabelo num salão de cabeleireiro, e simultaneamente aprendia umas coisas deste ofício. Casou jovem e mudou-se para a cidade em busca de melhor vida. Sem opções de emprego a minha mãe nunca se acomodou e fazia alguns trabalhos de cabeleireira ao domicilio…nunca se queixou…foi mãe jovem e sempre achou que por esse facto era a mulher mais afortunada do mundo. Arranjou depois emprego num refeitório de uma grande fábrica. Nunca teve qualquer tipo de formação mas a cozinha era a sua grande paixão.
Depois de alguns anos no refeitório aventurou-se no seu grande sonho…ter um negócio próprio de restauração. Quis o destino que o sonho se concretizasse no ano de 1974…lembras-te 1974? O ano em que te tornaste livre? Tinhas o quê? 10 anos?
Pois é…o sonho da minha mãe tem a idade da democracia.
O sonho nasceu pequeno, com pouco mais de 3 ou 4 colaboradoras. Com muita dificuldade, muito trabalho e muitas noites sem dormir foi crescendo e chegou a dar trabalho a mais de 20 pessoas. A minha mãe tem a 4ª classe.
Tu já criaste empregos Pedro?  Quer dizer…criar mesmo…investir e arriscar o que é  teu…telefonemas para o Relvas a pedir qualquer coisa para uma amiga da Laura não conta como criar emprego. A minha mãe criou…por isso ela não compreende muito bem onde errou. Tudo junto tem mais de 40 anos de descontos para a segurança social. Sempre descontou aquilo que a lei lhe exigia. A lei que tu e outros como tu…gente de tão abnegada dedicação, se entretém a escrever, reescrever, anular, modificar…enfim…trabalhos de outra grandeza que ela não compreende mas valoriza.
Pois como te digo, a minha mãe viu passar o verão quente, os tempos do desenvolvimento sem paralelo, o fechar de todas as fábricas da região, os tempos do oásis, as várias intervenções do FMI, as Expos, os Euros, do futebol e da finança…e passou por isto tudo sempre a trabalhar como se não houvesse amanhã. A pagar impostos todos os meses e todos os anos. IVA, IRC, IRS, IMI, pagamentos por conta, pagamentos especiais por conta, por ter um toldo, por ter a viatura decorada, por ter cão, de selo, de circulação, de radiodifusão…não falhando um único desconto para a sua reforma, não falhando um único imposto. E viu chegar as condicionantes da idade avançada sem lançar um queixume. E foi resolvendo todos os seus problemas de saúde que inexoravelmente foram surgindo, recorrendo a um seguro privado, tentando deixar para aqueles que realmente necessitam, o apoio da segurança social. Em mais de 40 anos de contribuição não teve um dia de baixa, não usufruiu de um cêntimo em subsídios de desemprego. E ela dá voltas e voltas à cabeça e não há forma de se recordar onde possa ter falhado. Mas certamente falhou…
Por isso Pedro, quando eu lhe li a tua carinhosa mensagem, que certamente escreveste na companhia da Laura e com um cobertor a cobrir as vossas pernas para poupar no aquecimento, ela comoveu-se, e cheia de remorsos pediu-me que por esta via te endereçasse um sentido pedido de desculpas.
Pediu também para te dizer que se sente muito orgulhosa de com a redução da sua pensão poder contribuir para que a tua missão na terra seja coroada de sucesso.
És de facto único Pedro. A forma carinhosa como te referes aos sacrifícios que os outros estão fazer, faz-me acreditar que quase os sentes como teus. Sei que sofres por nós Pedro. Sei que  cada emprego que se perde é uma chaga que se abre no teu corpo…é um sofrimento atroz que te é imposto…e tudo por culpa de quem? De gente como a minha pobre mãe que mesmo sem querer tem levado toda uma vida a delapidar o património que é de todos. Por isso se a conseguires ajudar a perceber onde errou ficar-te-ei eternamente agradecido. A minha mãe ainda é daquele tipo de pessoas que não suporta a ideia de estar a dever algo a alguém...ajuda-nos pois Pedro.
Aceita por favor, mais uma vez, em nome da minha mãe, sentidas desculpas. Ela diz que apesar de reformada e com menos saúde vai continuar a trabalhar para poder expiar o tanto mal que causou.
Continua Pedro..estás certamente no bom caminho, embora alguns milhões de ingratos não o consigam perceber.
Não te detenhas…os génios raramente são reconhecidos em vida.
Um grande abraço para ti.
Um grande beijo para a Laura.»



    Deixo aqui para que todos os que visitarem este blogue o possam consultar e reler sempre que queiram.
    O Autor é Nuno Barradas, não se trata de texto meu. Subscrevo.


Setúbal, 27-12-12
Paulo Eusébio

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

FESTAS DE NATAL DOS MAIS PEQUENOS

    O Natal, festa tradicional da Família, é, como nenhuma outra, vivida e participada pelas crianças, com  as  mais diversas iniciativas.
     Não faltam, nesta altura, entre outras, as festas natalícias, em infantários, escolas e ATL.
  Geralmente, estas festas têm a participação activa das crianças, desde a mais tenra idade, representando, pequenos actos teatrais, ou dizendo poesia, nas suas vozinhas frescas, hesitantes, por vezes com "brancas", evidenciando o nervosismo de quem, tão pequenino, pisa um palco, numa tentativa de mostrar o melhor que sabe e pode fazer.
   Actividade lúdica, brincadeira pura, dirão alguns que em pequenos não viveram esta situação, ou pior, que já não se lembram que foram crianças, incapazes de perceber o que passa por aquelas cabecinhas em momentos destes, em que sentem a necessidade de um justo elogio e aplauso para o trabalho que tiveram para chegar àquele momento e sair-se bem. O que as crianças querem, naquele instante, é a atenção da "plateia para o seu desempenho.
     E as famílias, das crianças? Qual o seu papel nestas festas? 
    Muitas famílias colaboram na preparação das festas, na medida em que o possam fazer, incentivam os seus pequeninos, dão-lhes confiança, para as suas actuações. A maioria, felizmente, comparece na festa, segue o desenrolar da apresentação, duma forma interessada e, acabado o espectáculo, comenta com a criança, o que por lá se passou. Do ponto de vista educacional, estas famílias estão a contribuir para a boa formação moral e intelectual das crianças.
Mas...

 Algumas pessoas, no entanto vão para estas apresentações para verem a única criança que actua na festa - a sua!
    Quando não está presente no palco a "sua" criança, esta gente, sem o mínimo de respeito nem pelas outras crianças, nem pelas outras famílias que estão na assistência - leia-se: sem a mais pequena ponta de civismo - desatam num falatório, como se estivessem no Mercado do Livramento, ao sábado, impeditivo do seguimento auditivo do que se passa na cena, dispersando toda a atenção das outras pessoas.
Não é situação nova. Há quem vá para os espectáculos em geral, ignorando todo o ambiente que deviam contribuir (todos!) para ser mantido, que permitisse, sem interferências nem ruídos estranhos que cada um seguisse tranquilamente, o que se passa no palco ou na tela. Em vez disso, tasquinham pipocas (negócio adicional das distribuidores de filmes...), comentam e conversam sobre os mais variados assuntos.
   Quando eu era miúdo, contava-se que, certa noite no São Carlos, Quando a música entrou em "pianíssimo", ecoou a voz de uma dama lamentando-se: «Lá me esqueci de mandar os sapatos para o sapateiro!» ...
     Afinal, as crianças de hoje são as herdeiras da geração das crianças da geração da senhora da ópera!
     Algumas não herdam educação! É natural: só se herda, havendo herança!

Setúbal, 20 de Dezembro de 2012
Paulo Eusébio