segunda-feira, 28 de maio de 2012

COMO UM CASTELO DE CARTAS (VELHAS)

    Ontem visitei o Castelo de S. Filipe, onde não tinha voltado desde o meu regresso a Setúbal.
   O facto de estar instalada uma pousada - estabelecimento hoteleiro de luxo - anexa, integrada ou simples vizinha do Castelo levava-me a admitir que todo o conjunto estivesse em melhor estado de conservação do que estava na última visita, há uns bons aninhos, embora soubesse como em Portugal somos "cuidadosos" com o património colectivo, o que me salvaguardava de quaisquer surpresas.
    Pois, fui surpreendido, para além de todas as expectativas... pela negativa!
   Antes de entrar na fortaleza - designação, muito em voga, que há diga que é a correcta, pois disso se trata, e não de um castelo, não percebi ainda a diferença, mas admito que tantos a usar uma designação criam resistência a inovações de nomenclatura - olhei para uns remendos de cimento na muralha e apontei a máquina fotográfica. O resultado está aí em cima: o cimento rachado e a muralha mais próxima da ruína. 
  Não gostei do que vi, mas continuei a visita detendo-me na igreja, onde reparei no aceitável estado de conservação dos azulejos, algo de positivo, sabendo como noutros locais certos "amantes da arte" têm tido "artes" para sacar azulejos com uma eficiência impressionante:    Ninguém  dá por nada e as coisas desaparecem à luz do dia, o que não é o caso, nesta igreja. O templo dá sinais de uso regular, mo que pode, de certo modo, contribuir para ser menos vulnerável ao saque.
    Deixada a igreja, subindo a escada, logo à direita da porta, chegamos à zona de onde se desfruta de uma maravilhosa visão panorâmica da Cidade, do rio e concelhos limítrofes.
    Espraiei avista até ao longínquo horizonte e tive uma visão geral de uma das mais belas baías do Mundo composta pelo azul único do Sado; a península de Tróia,  com as suas praias, complexo turístico e mata; a margem direita, com praias, porto e casario, num conjunto de imagens de que a descrição mais completa não consegue mais que um esboço grosseiro.
     Regressados os olhos ao miradouro, logo me foi chamada a atenção por quem me acompanhava, para a ratoeira documentada na imagem acima: uma caleira de escoamento de águas pluviais a que foi retirada a grelha de protecção, de ferro. ameaça perigosamente quem por distracção na apreciação da paisagem, por deficiência visual ou outro motivo qualquer meta um pé no espaço que estaria protegido pela grelha em falta, desequilibrando-se. A caleira interrompe-se exactamente naquele local para dar escoamento de águas sobre o segundo degrau de uma escada em leque, em mau estado. Quem caia ali, vai escada abaixo, precipitando-se numa sucessão de impactos, geradores de fracturas e traumatismos,  e só por milagre conseguirá contar alguma vez o que lhe aconteceu. E todos sabemos a frequência com que acontecem milagres!... A Culpa, essa, morrerá solteira, como habitualmente.
    
     O estado geral da fortificação é o que as imagens documentam: Um matagal por entre pedras que vão cedendo à força da Natureza traduzida pelo desenvolvimento de plantas que vão paulatinamente tomando conta de todo o espaço.
       
    
    Comecei por referir no início desta publicação a pousada que, de qualquer modo está ligada a este espaço: Pareceria lógico a um cidadão que reflectisse sobre  esta e situações semelhantes, que devia ter sido celebrado um  protocolo, acordo, ou o que lhe quisessem chamar, entre as administrações das pousadas, e as entidades - admito que possa haver mais que uma - responsáveis por este tipo de património, no sentido de garantir que, em contrapartida do aproveitamento ou concessão do espaço utilizado directamente no negócio, fosse prestada um manutenção eficaz das edificações anexas não directamente envolvidas, embora delas pudessem ser aproveitadas valências paralelas do ponto de vista turístico.
    Assim, a prazo corremos o risco de ver a fortificação vir abaixo, como um castelo de cartas. Velhas!...

Setúbal, 28 de Maio de 2012

Paulo Eusébio

sábado, 26 de maio de 2012

SETÚBAL MAIS BONITA

   No âmbito da iniciativa Setúbal Mais Bonita, milhares de voluntários têm-se mobilizado para requalificarem darem um aspecto mais cuidado a diversos equipamentos em espaços públicos da Cidade.
   O projecto conta com o patrocínio da Câmara Municipal, Juntas de Freguesia, entidades empresariais estabelecidas no Concelho e com a colaboração de milhares de voluntários que lançaram mãos à obra com o entusiasmo com que decorreu a primeira edição do projecto, entre 25 e 27 de  Setembro do ano passado.
    Longe de se limitar ao arranjo de espaços e equipamentos, nomeadamente, pinturas de paredes e muros e manutenção de jardins, a iniciativa foi motivo de confraternização e de convívio entre aderentes e participantes. 
    Acompanhei as "operações" desenroladas na Escola Básica N.º 3 (Pinheirinhos), do Agrupamento Luísa Todi, onde houve animação com jogos tradicionais, música e um pique-nique custeado pelos participantes, com apoio da Direcção da escola e da Associação de Pais respectiva.
   Em ambiente descontraído, com muita alegria, propício à recepção de princípios de Educação Cívica, no respeitante à responsabilidade que todos, e cada um de nós, temos na conservação e preservação do nosso Património Colectivo, todos os intervenientes se dedicaram de alma e coração às tarefas que se propuseram executar ou que lhes foram atribuídas.
   Não foi só na Escola dos Pinheirinhos, mas em todo o Concelho que o voluntariado funcionou, provando a capacidade de resposta que os portugueses revelam quando são desafiados a pôr à prova o seu civismo, tantas vezes injustiçado por quem, num processo de generalização, tão comum entre nós, confunde actos individuais, muitas vezes de puro vandalismo, com actuações colectivas que estão muito longe de corresponder a práticas generalizadas.
   Podemos ser um Povo com falhas de instrução, e somo-lo em muitas áreas!, mas temos uma boa educação de base que tem sido passada de geração em geração.
   Os participantes terão dado por bem empregue o tempo que dispensaram no alindamento do que é património de todos que, certamente, passa a ser mais respeitado e  cuidado, por quem nunca teria encarado como tal o que hoje foi objecto de cuidados especiais por parte de cada interveniente.
   Interrogar-se-ão muitas pessoas - confesso que a frio, à primeira notícia que tive do projecto, eu próprio fui uma delas - se tudo isto não passará de obra de fachada cuja finalidade é esconder o estado miserável em que se encontra grande parte do nosso tecido urbano. Admito que possa assumir esse aspecto, mas há muito mais a ter em conta, para além disso.
   Numa altura em que nos debatemos com os gravíssimos problemas que a todos afectam e que me dispenso de enumerar por serem demais conhecidos, testar a nossa vontade colectiva e determinação no desempenho de uma missão, ou tarefas comuns, é tónico que revitaliza o nosso ego, nos faz acreditar nas nossas possibilidades e no poder de, com a nossa força colectiva, transpormos os obstáculos e rumarmos de novo ao futuro com a determinação de um  Povo que, ao longo dos séculos, tem sabido encontrar soluções sempre que a sua identidade e independência tem estado em causa.
    Outro aspecto positivo de iniciativas deste género, ao levantarem interrogações no nosso espírito, é o de nos lançar mais um desafio: o de encontrarmos novas explicações para estados, factos e situações  com que convivemos dia-a-dia e que toda a gente tende a comentar da mesma maneira, numa opinião generalizada, muitos chamam-lhe "o politicamente correcto", que dispensa o pensamento próprio em detrimento do fabricado que toda a gente utiliza, falando barato sem ficar mal-visto.
  Pois aconteceu-me exactamente, ao por a cabecinha a funcionar - ela ainda funciona! Aleluia! - encontrar uma explicação nova para uma já velha questão.
   Fiquem descansados! Não é para hoje! 
  Talvez para a próxima conversa!

Setúbal, 27 de Maio de 2012

 Paulo Eusébio
   

domingo, 20 de maio de 2012

DA SEGURANÇA ÀS CEREJAS

    A segurança rodoviária e pedonal é matéria sempre referida pelos candidatos a autarcas, quando se aproximam eleições a que concorrem. Mesmo quando se candidatam na qualidade de eleitos e em funções, querendo ver renovados os seus mandatos. Nesse caso, prometem o que já tinham prometido e não conseguiram, ou não quiseram, cumprir jurando que agora sim!, é para valer e do futuro mandato, se forem eleitos, não passa.


 Entretanto os pavimentos degradam-se, esburacando-se, desintegrando-se, abatendo-se, etc., pondo em risco a segurança e integridade de pessoas e bens. 
    Em Setúbal o estado dos pisos é calamitoso: os passeios são geralmente irregulares, desnivelados ou com pedras soltas; os arruamentos, como o que a foto documenta, rachados, esburacados, a esboroarem-se; as ciclovias, nomeadamente na avenida Luísa Todi, que, ao que parece, foi mal construída, e se encontra no estado que quem por lá passa conhece bem; todos estes meios de mobilidade urbana, são potenciais ameaças à segurança de quem os utiliza e podem causar acidentes gravíssimos, com os inerentes danos pessoais e materiais.
    Acontecidos os acidentes quem se responsabiliza? Aí começa o tão luso e disputado jogo do empurra entre diversas entidades hipoteticamente envolvidas, quase sempre disputadas entre seguradoras e autarquias, mas com a possibilidade de envolvimento doutras entidades intervenientes.
   Se o acidente envolver uma viatura da PSP, por exemplo, pode-se dizer que a outra parte foi premiada com o primeiro prémio para os azarados: até ver, mesmo que totalmente isenta de culpa, hipótese fictícia, pois os agentes da seguradora e os da própria Polícia tudo farão para sacudir a água dos capotes e atirar-lhe as culpas para cima, passará as "passas do Algarve" num processo inglório de luta para fazer valer os seu direitos, a não ser que tenha seguro contra todos os riscos, que lhe custará, geralmente, uma pipa de massa pondo a seguradora a coberto de prejuízos com  aquele cliente a médio ou longo prazo. 
    A situação descrita no parágrafo anterior não é mera ficção, Resulta do preceito legal de isenção de seguro para as viaturas da PSP (provavelmente, digo eu, de palpite, extensivo a outras polícias e serviços estatais). Em caso de acidente com uma viatura isenta de seguro quem se prejudica, além do condutor da outra viatura, é o mexilhão, neste caso, o condutor da viatura policial. Porque o Estado que, fugindo com a nádega à seringa, legisla isentando-se ele próprio do pagamento às seguradoras, também não suporta, como pessoa de bem que não é (mas devia ser!), os encargos de reparações das suas viaturas acidentadas, fazendo recair os prejuízos sobre o património, e não só, dos condutores das suas viaturas.
  Estando isentas de seguro as viaturas acabadas de referir. os condutores das mesmas, para prevenirem os malefícios de qualquer acidente em que se vejam envolvidos deveriam ter seguro para as suas cartas de condução. Mas aqui levanta-se outro problema: do seu salário de miséria o agente tendo de pagar as despesas comuns a qualquer outro cidadão, além de despesas que deviam ser suportadas pelo Estado, como as relativas a fardamento que se degrade no cumprimento de certas missões, pela natureza destas, como vai conseguir o dinheiro para um seguro contra todos os riscos, que lhe dê segurança na condução, mas demasiado caro, face aos seus parcos rendimentos?
    À laia de nota: final: Aqueles semáforos na Avenida Luísa Todi, na zona frontal do Mercado do Livramento, serão meramente decorativos? Desde que regressei a Setúbal que os vejo assim!
    Agora reparo que comecei por abordar o tema "segurança", no respeitante aos "pavimentos", passei por "acidentes", "seguros" isenções","comportamentos estatais", "salários" e só parei nos "semáforos". Uns atrás dos outros, as assuntos saíram como cerejas!

Setúbal, 20 de Maio de 2012

Paulo Eusébio

quinta-feira, 17 de maio de 2012

RETIRE O SEU DINHEIRO!

  Não raro, dirigindo-nos a uma ATM (máquina do sistema Multibanco), depois dos procedimentos necessários para para efectuar um levantamento, no momento em que é disponibilizada a quantia pretendida recebemos da geringonça uma mensagem de voz: «Retire o seu dinheiro!». Algumas fazem-no com um volume sonoro digno de carrossel em qualquer feira.
    Ora, nos tempos que correm, parece-me um tanto perigosa a emissão de tal mensagem. Como é do conhecimento geral, o desemprego é galopante, absorvendo novos trabalhadores a cada minuto que passa.

    Longe de contribuir para a paz social, a situação que atravessamos, geradora de carências das mais elementares e básicas necessidades, é propícia ao aumento de comportamentos violentos por cada vez maior número de pessoas em desespero, que movidas por um insuportável estado de necessidade, se dispões a tudo, para sobreviver, enveredando por caminhos que nunca teriam admitido vir alguma vez a trilhar.
    «Retire o seu dinheiro!» é uma das frases que chegada aos ouvidos de uma dessas pessoas, pode desencadear um turbilhão de sentimentos inesperados, e acção automaticamente desencadeada.
    Dinheiro é aquilo que já não há lá em casa, mesmo que a casa ainda exista!
    Lá em casa há fome que, por melhor que seja a acção de particulares e instituições, no sentido de disponibilizar meios de combate a esse flagelo, mais não consegue que atenuá-lo; há doença que se agrava, por não haver dinheiro para adquirir medicamentos, cada vez menos comparticipados, ou sem comparticipação porque o Estado, ao invés de recuperar, o que passou, indevida e ilegitimamente, para a esfera pessoal de certos senhores, nem sequer os condena, e tenta sugar até ao último cêntimo o rendimento de trabalho do cidadão honesto, enquanto consiga exercer alguma actividade remunerada; há carências de toda a ordem; há a iminente passagem da propriedade para o banco que em juros, segundo o contrato que celebrou com então estimado cliente, previa acrescentar ao capital emprestado várias vezes o valor deste, além dumas alcavalas que pretende ainda esmifrar, como se o valor do imóvel, avaliado pelos seus próprios serviços, não fosse suficiente para cobrir o saldo da conta-corrente.
    «Retire o seu dinheiro!» pode gerar uma cena de violência evitável se o Multibanco prescindir da altissonante tecnologia de voz e passar a aparecer impressa no monitor a frase: «Por favor, retire o dinheiro. Muito obrigado pela preferência!». Discreta e educadamente, que é atitude de que gosto.

    Setúbal, 17 de Maio de 2012

    Paulo Eusébio

segunda-feira, 14 de maio de 2012

ESTOU RICO! ALELUIA!

    Quando menos esperava, fiquei rico.
    Sem jogar na Santa Casa, sem vigarizar ninguém, sem ingressar na política, sem ser empossado como presidente , director geral, ou CEO de qualquer grande empresa, embora esteja desconfiado que  para tal teria qualificação equivalente a alguns que estão nesses cargos, enfim sem me sentar num cadeirão de qualquer empresa pública ou parceria público-privada, vi os meus rendimentos atingirem um valor que excede as mais optimistas expectativas.
    E não fui só eu felizmente. Fomos imensos portugueses, que na vertigem da informação que nos bombardeia diariamente já tínhamos esquecido promessas pós-eleitorais dos nossos queridos governantes.
    Tudo aconteceu no dia 1 de Maio.
     Até 30 de Abril tudo corria, como se nada estivesse para acontecer.
     Pensa que estou a gozar com o pagode ou que o sol dos últimos dias me fez mal à zona sub-capilar superior? Então tire a prova: Vá a uma consulta ao Centro de Saúde ou a uma Urgência Hospitalar. Se não pagar taxa moderadora, esqueça: ainda não atingiu o limiar da riqueza. Se for notificado do débito de uma importância relativa à taxa que terá de pagar, parabéns, está rico! Não precisa de favores do Estado. Você paga nos seus impostos (ou devia pagar) os serviços que o Estado diz disponibilizar aos cidadãos (neste caso chama-nos utentes). Mas o Estado só disponibiliza plenamente os Serviços para os pobres. Os ricos, que ganham mensalmente 628,83€ (seiscentos e vinte e oito euro e oitenta e três cêntimos) por mês, dado o seu elevado nível salarial ou de pensões, se
quiserem saúde, paguem-na outra vez, que a Saúde está cara e há alguns que dizem que trabalham lá, que  levam para casa largas dezenas de salários dos ricos.
   Não sejamos ingratos! Agradeçamos aos nossos governantes a legislação que nos transformou num país com um número de ricos invejável, face a uma Europa e ao Mundo que nos consideravam um bando de indigentes.
    Agora podemos exibir orgulhosamente a nossa riqueza e a grandeza humana de quem nos levou a este nível!
   Uma dúvida, só, ensombra o meu regozijo: gosto das coisas bem definidas, mas não estou a atinar com a designação que devo dar aos antigos ricos! Aqueles com fortunas, como diria o meu amigo Ambrósio, das antigas...

    «Até 30 de Abril de 2012, presumem-se isentos do pagamento de taxas moderadoras os utentes que se encontrem registados como isentos no Registo Nacional de utentes (RNU) de 31 de Dezembro de 2011. Para regularizar a situação, deve ser apresentado meio comprovativo até 31 de Março de 2012.».


Setúbal, 14 de Maio de 2012

Paulo Eusébio

quarta-feira, 9 de maio de 2012

EM NOME DO CLIENTE

    Quem frequente uma das grandes superfícies de distribuição existente na nossa Cidade, já reparou, decerto, há muito tempo numa inovação introduzida para "facilitar" a vida ao "estimado cliente", possibilitando-lhe uma redução do tempo necessário para efectuar as suas compras. Refiro, como possivelmente já terão pensado, as caixas operadas pelo próprio cliente.
    É sabido que, cada vez mais, o grande comércio tem, como principal centro de preocupação as pessoas. A primeira pessoa é o Cliente, começando por estudar a forma mais eficaz de lhe sacar o máximo dos cada vez mais reduzidos rendimentos; a segunda é o Fornecedor, a quem procuram desvalorizar os produtos, pagado-lhe cada vez menos, e fazendo-o suportar (ou, pelo menos, tentando fazê-lo)  todas as eventuais perdas, mesmo as decorrentes de promoções por vezes irresponsáveis e de utilidade mais que duvidosa para o cliente - alvo sempre declarado beneficiário das ditas promoções; finalmente, terceira pessoa, o Trabalhador ao seu serviço, tratado como um empecilho que só lhes provoca custos, do qual, não sendo possível prescindir totalmente, é necessário livrarem-se do maior número possível de efectivos, e ao qual procuram retribuir com as menores remunerações que lhes permitam vegetar e manter-se ao serviço, enquanto aguentarem - aí está o novo proletariado, phoenix ressurgida das próprias cinzas.
    Voltemos às tais caixas operadas pelo cliente. A ideia que querem passar, de menor perda de tempo  para o cliente, cai por terra com dois argumentos simples: o Cliente não estando vocacionado, na generalidade, para o desempenho de tal tarefa, perde imenso tempo com enganos, repesagens, rectificações, pedidos de ajuda, etc.; mas, dir-me-ão, depois de uma certa prática adquirida, o cliente conseguirá despachar-se com uma rapidez aceitável. Pois, consegue!, concordo eu, mas aí entra o segundo argumento: depois de banalizada a auto-operação em caixa, a grande superfície vê chegada a oportunidade para dar cumprimento a um objectivo que referi  acima - redução do número de trabalhadores: Como os operadores de caixa deixam de ser necessários, rua com  eles!
    Então as bichas crescem, não nas caixas tradicionais, que foram à vida, mas nas auto-operadas, não faltando quem descarregue o seu descontentamento sobre os nabos que nunca mais aprendem a andar com aquilo!
     Os responsáveis das grandes superfícies virão dizer no "telejornal" das oito que não cometeram nenhuma ilegalidade, que agiram no respeito escrupuloso da lei, blá, blá ,blá... e que não fizeram nada que os concessionários das auto-estradas não tenham feito há muito!
     E, nas entrevistas, tendo com pano de fundo a fachada do supermercado, o jornalista não se lembrará, decerto, de perguntar: «... e quando, por hipótese, nada mais que isso, mas se acontecer serem eliminados todos os postos de trabalho existentes no mercado a que é que vocês pensam vir a vender?»
    Está explicado porque eu recuso as caixas auto-operadas.

Setúbal, 9 de Maio de 2012

Paulo Eusébio

segunda-feira, 7 de maio de 2012

PARA LÁ DA PAISAGEM

   Setúbal é uma cidade integrada numa paisagem de grande beleza, proporcionada pela baía que abraça o Sado no seu casamento com o Atlântico, de um azul intenso e único. Em frente, no outro lado do estuário, a Tróia cosmopolita que tomou o lugar da Tróia dos setubalenses, onde íamos passar férias, ou simplesmente fazer praia, no verão.
    Infelizmente, para lá da paisagem esconde-se a outra realidade com que topamos quando chegamos à baixa: lojas fechadas, prédios em ruína iminente, pavimentos degradados e crescente insegurança de pessoas e bens.
    A crise permanente em que temos vivido ou as sucessivas crises, se preferirem estão na origem da situação descrita, numa primeira apreciação. Mas a realidade é bem mais complexa.
    A abertura de grandes superfícies comerciais tem atraído um consumidor, cada vez mais homogéneo e apressado, que compra sem tempo para escolha, aproveitando as campanhas bem urdidas pelas empresas distribuidoras que se estão nas tintas para as necessidades reais das pessoas, levando-as a pela criação de novos hábitos de consumo, a comparem não o que precisam, mas o que o supermercado quer que elas pensem que precisam. Isto acontece, não só  na generalidade do país, mas na generalidade do mundo  que se diz desenvolvido.
    Perante tal situação, os centros históricos, têm deixado, a pouco e pouco, de terem comércio, um comércio personalizado, onde as pessoas eram atendidas por quem sabia do ofício, capaz de aconselhar, esclarecer e ajudar a escolher. E faziam-no, estas pessoas, com simpatia, cortesia e  um sorriso que dispunha bem o Cliente.
     Com o fechar destes estabelecimentos, diminuiu o movimento nas ruas, foram muitas pessoas para o desemprego e não se fixaram pessoas em idade laboral. A população foi envelhecendo e morrendo. As casas que ficaram devolutas não tiveram procura que as ocupasse. Os senhorios, com IMI para pagar, tendo deixado de receber as rendas antigas, naturalmente baixas, algumas vezes a sua única fonte de rendimento, ficaram sem possibilidade de fazer quaisquer obras de reparação ou restauro, precipitando os imóveis numa marcha acelerada, rumo à ruína total.
    Esta é uma pálida ideia de que está escondido para além da paisagem que a fotografia documenta.

    Setúbal, 7 de Maio de 2012

    Paulo Eusébio

A NOSSA CONVERSA COMEÇA AQUI

   Tenho nos últimos tempos exercido o direito de opinião publicando e comentando no Facebook.   Esta rede social tem, no entanto, vários problemas e limitações, entre eles a efemeridade da permanência dos post,  o limitado espaço de que, naturalmente, dispomos para publicação de comentários e as perdas que ocorrem, por vezes, de publicações que desaparecem sem explicação aparente.
     Decidi, portanto, optar por um meio mais fácil de consultar o que publico, com maior desenvolvimento, sem contudo abandonar o diálogo com os meus amigos do Face, como tenho feito até ao presente.
     Saúdo os possíveis leitores deste blog, e espero que a minha escrita despretensiosa, seja interessante para quem tenha a paciência de a ler.

     Em Setúbal, aos 7 de Maio de 2011
     Paulo Eusébio